Opinião Livro

A Estrada, Cormac McCarthy



Título Original: The Road
Autor: Cormac McCarthy
Editora: Relógio D' Água
Género: Ficção
Páginas: 192
Ano Publicação PT: 2007
ISBN: 9789727089345

Sinopse

Um pai e um filho caminham sozinhos pela América. Nada se move na paisagem devastada, excepto a cinza no vento. O frio é tanto que é capaz de rachar as pedras. O céu está escuro e a neve, quando cai, é cinzenta. O seu destino é a costa, embora não saibam o que os espera, ou se algo os espera. Nada possuem, apenas uma pistola para se defenderem dos bandidos que assaltam a estrada, as roupas que trazem vestidas, comida que vão encontrando - e um ao outro. A Estrada é a história verdadeiramente comovente de uma viagem, que imagina com ousadia um futuro onde não há esperança, mas onde um pai e um filho, "cada qual o mundo inteiro do outro", se vão sustentando através do amor. Impressionante na plenitude da sua visão, esta é uma meditação inabalável sobre o pior e o melhor de que somos capazes: a destruição última, a persistência desesperada e o afecto que mantém duas pessoas vivas enfrentando a devastação total. 



A verdade é que este livro podia ser mais pequeno, podia conter menos repetições, e talvez não ter exagerado. Já vou chegar a essa parte, mas primeiro quero dizer que apesar disso tudo, é um belo livro. Só a maneira que este pai tenta equilibrar a sua vida assim como a do seu filho é digo de nota num mundo desfeito.

Aquele cenário é num mundo apocalíptico que foi completamente devastado por vulcões, incêndios, nevões, terramotos, e provavelmente por tsunamis. Não é completamente explícito mas de certeza que todas as catástrofes naturais aconteceram muito antes de toda a narrativa se centrar. Pai e filho encontram-se em destino incerto para nós (não nos é dito o local onde se encontram) contudo o pai consegue-se orientar e encontrar a casa onde nasceu e cresceu e levá-los até à zona marítima baseando-se num mapa em pedaços. 

Um mundo que apenas alguns têm a (in)felicidade de ainda caminhar. Onde a luta pela sobrevivência é do mais cru possível, não estivesse já num ponto em que vale tudo até comer humanos. E assim é a vida de um pai e de um filho que tentam contra todas as probabilidades deixarem-se apanhar pelas garras da morte. Sentimos o medo aterrador, a fome e o frio agonizante que eles passam, e sentimos na pele a agonia de quem quer sair ileso deste mundo cinzento. E aquela ponta de réstia que leva aquele pai a acreditar que vai conseguir salvá-los. E mesmo na crueldade daquele mundo, tenta sempre passar a melhor das mensagens ao filho, mesmo quando a salvação parece depender da necessidade de matar alguém. O filho quando o desespero do pai é demais tenta também lembrar-lhe que podem ainda existir pessoas boas naquele mundo destruído.

O livro só é demasiado previsível e peca por esse exagero, porque o pai consegue sempre encontrar comida em sítios onde ninguém ainda a saqueou. E que supostamente já está tudo revirado de pernas para o ar. Apesar de não nos ser explicado o que aconteceu realmente ao nosso planeta, fiquei com a sensação que o filho nasceu já naquela destruição. E por se isso realmente aconteceu, duvido muito que o pai conseguisse ensinar tão bem a criança a ler. Porém isso são pormenores insignificantes comparados com a grandeza do livro.

A estrada é o simbolismo que podemos andar numa e não encontrar nada do que pretendemos ou podemos caminhar e finalmente encontrar a luz ao fundo do túnel. Acho que foi esse o objectivo de Cormac McCarthy, até onde estamos empenhados em seguir aquela pequeníssima esperança que contemos nos nossos corações mesmo que estejamos num mundo completamente arrasado e que parece que a cada passo pode nos sugar. 

O ser humano é constantemente confrontado com a mudança e com a adaptação face a esta, e por muito que me apertasse o coração ao pensar no frio e na fome, McCarthy consegue dar realismo à ambientação que é preciso ser feita se queremos sobreviver. Foi realmente avassaladora a mensagem.

Agora só me falta assistir ao filme até porque conta com o Viggo Mortensen.

Citações:

"Velhos dilemas inquietantes esvaziados de sentido, dando lugar ao nada e à noite. O derradeiro exemplo de uma coisa leva consigo toda a categoria. Apaga a luz e desaparece. Olha à tua volta. Nunca é imenso tempo. Mas uma coisa o rapaz sabia. Nunca é apenas um breve instante."

"Nem todas as palavras prestes a morrer são portadoras da verdade e a bênção que proporcionam não é menos genuína por se ver privada dos seus fundamentos."

"A cada hora. não há mais tarde. Mais tarde é aqui e agora. Todas as coisas encantadoras e belas que temos vontade de aconchegar junto ao coração têm origem comum na dor. nascem no sofrimento e nas cinzas."

Classificação: 4 de 5*
 

2 comentários:

  1. Eu já vi o filme e foi ele que me levou a comprar o livro que está na minha estante. Não faltará na minha lista de leituras de 2014:)
    Beijos

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    1. Fazes bem, o livro tem uma mensagem tão boa que mesmo andando à volta do mesmo, soube bem lê-lo!

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